Presidente do Sistema Fetransul fala sobre o reajuste do frete para Gaúcha ZH
outubro 20, 2021Afrânio Kieling conversou com a colunista de Economia Marta Sfredo nesta terca-feira, 19. Leia a reportagem abaixo:
Depois de maio de 2018, quando a parada dos caminhoneiros teve apoio explícito ou disfarçado de algumas transportadoras, sempre que se fala em paralisação da categoria, surge a dúvida: é greve ou é locaute – quando são as empresas que “cruzam os braços”?
Questionada por leitores qualificados, a coluna foi perguntar à Federação das Empresas de Logística e Transporte de Cargas no Estado (Fetransul), que representa cerca de 20 mil empresas do segmento.
– Essas entidades que estão falando em greve são dos autônomos, não tem nada a ver com entidades empresariais. São quase sempre os mesmos. As empresas não apoiam, não concordam e não aceitam – foi a resposta de Afrânio Kieling, presidente da Fetransul, “taxativa”, como ele mesmo caracterizou.
Para lembrar, a coluna comparou a ameaça de parada a partir de 1º de novembro, se não houver mudança na política de preços da Petrobras e reajuste do frete a um pedido de resgate usando o país como refém. Embora não apoie a paralisação, a federação se alinha a uma das reivindicações: o reajuste da tabela de frete, diante do “absurdo” reajuste do diesel. Kieling pondera:
A classe está sofrendo demais, o aumento do combustível já está em quase 41%, pelos levantamentos mais recentes. A grande maioria quer produzir, trabalhar, mas as altas no diesel, nos pneus, têm sido muito difíceis para o setor. As empresas sentem muito e têm muita dificuldade para se manter abertas e manter os empregos. Por isso, somos a favor do reajuste das tarifas. Estamos sufocados, mas isso não quer dizer que vamos parar.
Conforme dados do setor, a defasagem do valor do frete para transportes rodoviários de cargas no Brasil fechou o primeiro semestre em 18,7%, quase 5 pontos percentuais acima do que já estava no final de 2020. O cálculo considera todas as pressões de custo, não apenas o diesel, mas não inclui o reajuste mais recente, de pesados 8,9%, que aditivou a tensão entre governo, Petrobras e caminhoneiros.
Embora aponte “politicagem” na mobilização dos caminheiros, Kieling afirma que o problema da defasagem é “verdadeiro” e, portanto, será preciso repassar:
– Tanto empresas quanto autônomos estão sofrendo. Precisamos repassar aos embarcadores (empresas que contratam frete), se não as empresas não conseguem sobreviver. Levar a movimento de greve é um ato muito extremo. Precisamos negociar, conversar.
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação, adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como um seguro contra perdas.
FONTE: Marta Sfredo, colunista de Economia de Zero Hora e GZH