“Se diesel subir, gatilhos vão disparar e a inflação vai lá em cima”, diz líder do setor de transportes
março 7, 2022Presidente da Fetransul considera “inviável” repasse de alta do petróleo aos combustíveis no Brasil
O presidente do Sistema Fetransul, Afrânio Kieling, foi procurado pela colunista de Economia de GZH, Marta Sfredo, para comentar sobre a alta do petróleo e as possíveis consequências para o setor dos transportes. Confira na entrevista, realizada nesta segunda-feira.
Quando a coluna perguntou a Afrânio Kieling, presidente da Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Rio Grande do Sul (Fetransul) o que ocorreria se a Petrobras repassasse toda a defasagem acumulada nos preços de gasolina e diesel, estimada em mais de 30%, ouviu como resposta uma gargalhada.
— Ri de nervoso, Deus nos livre e guarde. É muito difícil trabalhar assim, é um desgaste muito grande — explicou o empresário, dizendo que isso é simplesmente “inviável”.
Nesta segunda-feira (7), a cotação do barril tipo brent chegou a US$ 138, perto do máximo histórico nominal de US$ 147, por ameaça de proibição de importações de petróleo da Rússia. Segundo Kieling, o diesel acumula alta ao redor de 70% e os pneus – feitos com derivados de petróleo – subiram cerca de 30%. O presidente da Fetransul relata que, diante da imprevisibilidade, algumas empresas do setor adotaram gatilhos: se o combustível sobe para além de determinado percentual, o preço do frete também sobe.
— Antes, as empresas negociavam contratos com clientes uma vez ao ano. Agora, ou negocia quatro ou cinco vezes, ou faz um contrato com gatilho. Aumentou, põe gatilho. Se houvesse um repasse desse tamanho, o que acho inviável, dispararia os gatilhos, seria repassado à sociedade como um todo e a inflação vai lá em cima — desabafa.
Segundo Kieling, o mês passado foi bom para o setor de transportes, com empresas relatando que tiveram o melhor fevereiro em muitos anos. Atribui a uma “retomada forte” dos negócios, mas diz que isso só foi possível com reduções de custo e muita conversa com os clientes.
— Por que a Petrobras precisa de um lucro desse tamanho? É boa a ideia de fazer um subsídio com os dividendos da empresa paga ao governo. Se não fizer isso, começa a inviabilizar tudo. Tudo no Brasil passa por roda. Ainda que estejam sendo feitos investimentos em ferrovias e hidrovias, não dá pra entregar na porta do cliente de trem ou de avião. A última milha sempre vai ser rodoviária — argumenta.
Na quarta-feira (9), contou Kieling à coluna, será instalada a pedra fundamental das obras de uma unidade do Sest/Senat no Porto Seco, em Porto Alegre. As entidades das quais o empresário é presidente do conselho vão investir R$ 5 milhões no terreno e outros R$ 20 milhões no prédio.
— Vamos buscar pessoas das comunidades ao lado para poder treinar e trabalhar no setor de trasporte.