Modelo da Serra divide opiniões e preocupa o Vale

fevereiro 10, 2023 0 Por Site Fetransul

Desde o começo do mês, seis rodovias do bloco 3 estão sob gestão privada. Contrato de 30 anos prevê investimento bilionário na qualificação da infraestrutura viária de uma das regiões mais ricas do RS. Mas fim de isenções e valores elevados da tarifa geram críticas.

Enquanto o Vale do Taqua­ri aguarda por um proje­to que contemple as ne­cessidades locais, outras regiões buscam reverter pontos de um contrato de 30 anos. Desde o dia 1º, as rodovias do Bloco 3 do plano de concessões estão sob nova direção. E os primeiros dias têm sido de dúvidas, incertezas e críti­cas da comunidade, gestores públi­cos e do setor produtivo.

Vencedor do leilão promovido ano passado, pelo governo do Esta­do, o consórcio Integrasul foi o úni­co a apresentar proposta. Para ad­ministrar os 271,5 quilômetros de rodovias da Serra e do Vale do Caí, foi criada a empresa Caminhos da Serra Gaúcha (CSG), que também vai operar as praças de pedágio.

Ao todo, a concessionária pro­mete investir R$ 3,4 bilhões em obras de duplicação, vias margi­nais, terceiras faixas e construção de pontes, viadutos e passarelas. Entre os 119 quilômetros de ro­dovias que serão duplicadas, es­tão trechos da ERS-122, entre São Vendelino e Farroupilha, e da ERS-446, de Bento Gonçalves a Carlos Barbosa.

Ao mesmo tempo em que apro­vam a concessão à iniciativa pri­vada – antes sob responsabilidade da Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) – para garantir os investi­mentos necessários, líderes apon­tam uma série de problemas no contrato vigente. Alguns pontos, inclusive, semelhantes às críti­cas existentes no Vale do Taquari, conforme o presidente da CIC-VT, Ivandro Rosa.

 “Vamos até a última instância”

Cidade de 35 mil habitantes, Portão foi surpreendida com um aumento de mais de 80% no valor do pedágio. A tarifa passou de R$ 6,50 para R$ 11,80 a partir do iní­cio da concessão. O maior impac­to, porém, é o fim da isenção para moradores, o que motivou a judi­cialização do processo por parte do Executivo.

“Nós vamos até a última ins­tância em busca da isenção. São 15 mil moradores que transitam por ali. É inconcebível o que está acontecendo. Um pedágio dento de área urbana afeta vários comér­cios e principalmente os muníci­pes de menor poder aquisitivo”, afirma o prefeito Delmar Hoff. Na primeira instância, a ação ajuiza­da pelo município foi negada.

No próximo ano, a praça de pedágio será deslocada para São Sebastião do Caí, quase na divisa com Portão. Mesmo assim, Hoff entende que o projeto, da forma como foi conduzido, é prejudicial para a região como um todo. “Nós discordamos desde o primeiro momento. O valor da tarifa é um absurdo. Fizeram audiências mas nada do que solicitamos foi levado em consideração”.

Em São Sebastião do Caí, mani­festações no ano passado pediam ao governo que recuasse na im­plantação da praça de pedágio no município. O mesmo ocorreu em Capela de Santana, que também terá cancelas. Os governos das duas cidades, inclusive, cogitam a construção de desvios alternativos.

 Apagão de investimentos

As discussões para elaboração do projeto de concessão das ro­dovias da Serra iniciou em 2020. Uma construção, na visão da pre­sidente do Conselho Regional de Desenvolvimento da Serra (Core­de Serra), Mônica Mattia, que foi benéfica para a região, por ser a melhor alternativa para garantir as obras necessárias à qualificação da infraestrutura viária.

“Até 2031 toda a duplicação prevista estará pronta, incluindo as pontes, viadutos e passarelas. Somos a segunda região mais in­dustrializada e nossas rodovias estão num nível muito inferior à capacidade de produção e consu­mo. Nós tivemos um apagão de praticamente 30 anos em investi­mentos de rodovias”, argumenta.

Com relação às críticas por con­ta da tarifa, Mônica entende que o pedágio é a única forma de viabili­zar os investimentos nas rodovias. “As obras de duplicação e manu­tenção a serem feitas precisam ser pagas por alguém”.

Além disso, também ressalta a existência de descontos na tarifa para usuários frequentes que pas­sam pela mesma praça em um mês. “Infelizmente o período da conces­são pegou um momento de inflação alta. Caso contrário, teríamos uma tarifa mais satisfatória. Mas os des­contos podem ser significativos”.

Fiscalização

Presidente da CICS Serra, Elton Gialdi, lamenta a forma como o processo de construção foi con­duzido. Ele sustenta que, desde o começo, o projeto foi “mal desen­volvido”. Tanto que resultou em apenas uma empresa interessada no leilão. “Somente uma partici­pou, e é pouco expressiva nesse ramo de rodovias. Não tem uma grande bagagem e ofereceu um deságio inexpressivo”, avalia.

Com a concessão já em vigor, Gialdi salienta que agora resta às entidades e gestores públicos fiscalizarem o processo e garan­tir que as obras sejam implemen­tadas no tempo estabelecido em contrato. “Pelo menos, esperamos que executem as obras propostas. E, claro, cabe a nós pagar um pe­dágio exorbitante”.

Fonte: A Hora Lajeado – Mateus Souza / mateus@grupoahora.net.br

Foto: Aldo Lopes